segunda-feira, novembro 08, 2004

IMPRESSÕES DESCONJUNTADAS DO TIM FESTIVAL

KRAFTWERK:

graças ao meu trampo e à imensa distância - em termos santistas - entre a estação de metrô vila madalena e o jóquei clube, perdi o kid 606 e as primeiras músicas do kraftwerk, encontrei a flávia bufando com meu ingresso mas, cara, foi sensacional ver os alemães.

tipo show do black sabbath, muito clássico. vc sentia estar vendo ''o começo de tudo''. os 4 de terno preto e camisa vermelha paradões, cada um na frente de sua estação clean composta de sintetizador e laptop, nenhum fio à mostra. telão ao fundo, microfone da madonna. às vezes
um arriscava balançar a perna e era o máximo que se mexiam. imagens vintage no telão, pinturas e propagandas como a do fusca transparente voando com a família dentro e animações em ''baixa definição'', como uma tela gigante de atari. deve ter sido menos impactante que na primeira vez em 98, mas foi foda, o povo pulava de alegria. quando rolaram TOUR DE FRANCE, TRANS EUROPE EXPRESS, RADIOACTIVITY e outras clássicas eu vi marmanjo se abraçar e pular junto, ou limpar lágrimas dos olhos. público misturado, com destaque para os COSPLAYERS de kraftwerk.

OBVIAMENTE tem gente que acha truque eles soltarem bases pré-gravadas e ficarem mexendo nos filtros de freqüência e delay, mas whatever. foi foda, tinha alma ali.

como as primeiras músicas foram as mais recentes, num esquema meio tecno progressivo não senti falta de não ter visto. na POCKET CALCULATOR não teve os aparelhinhos portáteis e ficou uma versão meio
Ibiza, mas enfim. vários bizzes rolaram, marcados por uma cortina fechando o palco todo. em ROBOTS, como era de se esperar, apareceram os robôs-manequins no lugar dos caras, ''operando'' os terminais e iluminados por vários estrobos. passei mal. em outro momento, eles voltam cada um com seu colante quadriculado que brilha com luz
negra, um treco tipo TRON e AUTOMAN. os jogos de luzes faziam as carecas alemães brilharem em púrpura e azul. homens do espaço 2D, alienígenas-retrô.

na MUSIC, NON STOP [se tô errando os nomes das músicas dá um desconto que tô cansado] as imagens em ''cgi'' das cabeças cantavam e ''dançavam'' junto no telão, como na capa do disco e no clipe. cada um foi saindo do palco pela nossa direita, não antes de dar sua última mexida no som, como se fosse um solo de jazz em que cada músico mostra sua habilidade, mas sem virtuosismos, tudo em função de música em si. foi triste ver o último sair do palco.

todo mundo saiu realizado. depois os caras ficaram circulando pela área comum village - ou ''quermesse de boy'', como prefiro chamar, e um freqüentador gaúcho da /popscene ficou trocando idéia com alguns deles em alemão.

paradão de se ver, mas movimentado de se ouvir. showzaço.


SOULWAX, CANSEI DE SER SEXY E 2MANYDJS

na mesma noite e no mesmo palco do kraftwerk rolou um outro pacote
de shows que conseguimos ver, todo empolgados, mas terminamos decepcionados: SOULWAX e 2MANYDJS. CANSEI DE SER SEXY foi meia-
decepção, mas não por culpa da banda.

os irmãos belgas que formam a dupla 2manydjs e parte da banda de rock
Soulwax [que também faz lá suas versões] tinha tudo pra levar a noite no laço, mas alguém tava errado: a platéia ou eles. a banda em si não é ruim, tem momentos muito criativos, graças à mistura de rockão meo stoner com eletrônico bem equalizado. quer dizer, menos pelo vocal muito baixo. o cara pedia toda hora pra subir e esse foi um problema
que atravessou todo o festival.

a disposição da banda no palco era muito boa, todos bem à frente. ao fundo e cobrindo as mesas dos equipamentos um pano branco de listas pretas [ou vice-versa] fazia os caras parecerem estar saindo de uma versão tridimensional de seu site www.soulwax.com.

é mais uma banda que entra no meu registro como ''seria legal se não tivesse vocal''. o show foi muito longo e o vocal encheu o saco, lembrava bandas de rock pós-grunge com um pé nos clichês de FM. confesso que não conheço o suficiente mas fui ''pra gostar'' porque eles têm coisas ótimas, como a versão-remix que fizeram de SEVENTEEN do
ladytron. o povo não tava prestando tanta atenção como deveria e achei que foi mal sinal. eu tava gostando até certo ponto. daí todo mundo começou a conversar como se estivesse em bar e a NÃO VER seus celulares e câmeras digitais serem roubados. muita gente se fodeu e nem foi coisa de maloqueiro, mas de boi drogadito mesmo. boy é um raça maldita, já falei?

entre soulwax e 2manydjs veio o /canseidesersexy, com as letras CSS gigantesno palco. ridícula a preparação do show: a produção não havia deixado elas passarem o som e ficou testando vocal e volume da bateria com o povo todo esperando. patético. o show em si foi ótimo, a tosqueira de sempre. é como ver um Blitz do século 21, pouco se fodendo pra quem acha que são ''banda de fotolog''. a piada é justamente essa, uma reação à carranca indie rente a um show da volta do i love miami. mas enfim, divago. as composições do adriano do butchers é que deixam a coisa pop. e as meninas - todas com roupas de lycra sobrepostas, desconjuntadas e com o corpo pintado - sabem levar a coisa bem, ainda que nenhuma das outras tenha o pique das vocais /lovefoxxx e /cueila, engraçadas pra caraio fazendo aeróbica, imitando j-lo, ''interpretando'' as letra'', jogando água uma na outra, rebolando e tremendo o corpo pra voz ficar vibrando sem pedal. rolou troca de instrumentos e participação do supla numa das músicas, também com a cara pintada e par perfeito pra sem-noção-com-noção da lovefoxxx.

infelizmente nem todo mundo entende e é o povo que leva O Rock a sério demais. azar deles que não souberam curtir. ver isso tudo perto da trupe bizarra do estilista dudu bertolini [a bicha da meia-calça] deixou tudo ainda mais engraçado. mas mesmo ali não sendo estádio, o show do CSS é mais pra clubes pequenos.

os irmãos belgas do soulwax voltaram pra discotecar como 2manydjs. apenas duas mesas com vinis, cds e pick-ups no palco. no telão a mesma imagem do palco, com um efeito bregasso que fazia os irmãos parecerem um só. e um só eles foram, um completando as mixagens do outro, só que decepcionaram. a idéia de fazer a pista do show virar pista de dança foi ótima, mas não funcionou como deveria. conversei com quem viu no ano passado no rio e parece que lá foi melhor. aqui teve pouca mistura de riffs de rock com batidas de eletrônico feita ao vivo. teve muita coisa comunzaça, que eu poderia ouvir em boates de boy da minha cidade com apenas alguns toques espertos dos caras, jogando efeitos mas dependendo muito do crescendo típico do tecno mais tradicional. em todas as músicas, que no fim eram uma só. jogaram pra galera e mal.

a vibe tava estranha. a iluminação não era tão ''de pista'' como deveria ser, todo mundo via a cara um do outro e por mais que tivesse gente se acabando de dançar sem olhar pros caras [não tinha o que olhar, era sem graça] o povo tava meio com vergonha. aliás, povo muito muito muito boy, a praga do universo [já falei isso?]. gente brega e espaçosa demais, uma míriade de caras com camisa sem manga pra mostrar os brações e corrente de prata. devem ter visto ''djs'' no anúncio e foram ver qual era. bom pra eles, ruim pra mim.

quando senti que o vibe tava me lembrando demais da mythos - uma boate de boy aqui de santos que funciona num galpão - falei pra /durante : vamo? e ela: vamo.

black dog vegetariano: 7 reais.