sábado, abril 26, 2003

MEMORANDO
Hector Lima

Teófilo, Véia Pirata, esse é o Mundo; Mundo, esses são Teófilo e Véia Pirata:

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personagens do ZUMBINGO:

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cujo roteiro acabei essa semana e disparei pro Irapuan, que me mandou esses primeiros esboços lá de Curitiba. Nem parece que foi há cinco anos que resolvi fazer uma história de terror com idéias pescadas quando eu passava algumas noites [nota: alguns outros anos mais pra trás ainda] com alguns amigos e quase dinheiro algum no bolso num barracão de bingo jogando e pensando que ficaria rico só pelo fim de semana e sem trabalhar. Quando percebi que estava indo às tardes pra pegar rodadas gratuitas resolvi parar de vez; eu poderia virar algumas daquelas pessoas tristes, velhas, loucas e enrugadas que infestavam o lugar e tinham cara de personagem de história barata. Ouvi falar que, depois de derrubarem o barracão, o terreno foi vendido pra Igreja Universal.

Um dos caras, não lembro se foi Daniel ou Américo, veio com essa de "imagina um velho ganhando um puta prêmio especial no bingo, daí ele..." e eu disse que um dia faria uma história sobre isso. As anotações ficaram descansando no meu hd desde que ele começou a rodar nesses cinco anos de procrastinação. Até que resolvi ressuscitar o bicho e me enchi de informação sobre candomblé, umbanda, macumba, zumbis etc via internet. É sempre legal notar como quando você mergulha nessas as coisas começam a pipocar na sua frente: filmes de Jesus na Seção da Tarde da Semana Santa com Lázaro saindo da tumba e o Filho de Deus sendo crucificado parecem interessantes e divertidos, filmes de mortos-vivos aparecem por toda parte, a cinebiografia de George Romero que você sempre quis ver acaba passando (você se sente melhor ao saber que A NOITE DOS MORTOS-VIVOS, um dos filmes mais aterrorizantes e pessimistas, foi filmado durante alguns fins de semana com coadjuvantes pagando pra aparecerem mordendo pedaços de fígado).

A primeira e a última cena do ZUMBINGO sempre estiveram claras pra mim mas como fazer uma levar à outra me fez quebrar a cabeça ouvindo Screamin' Jay Hawkins e o disco de covers do Fantômas [as músicas "Scare Crow" e "Cannibal Song" do Ministry e "Garlands" do Cocteau Twins, entre outras gotiquices também funcionaram pra entrar no clima] até o ponto em que eu virei um zumbi no canto do quarto, ouvindo nada além do chiado do micro na madrugada alta e imaginando não poder dormir antes de acabar aquela merda. E agora tenho uma tosse seca interminável que quase todo mundo que começa a "escrever" adquire. Ridículo.

Enquanto isso eu mandava e-mails pro Irapuan feito um maníaco [repita três vezes pra parecer cool] com links pra imagens de referência, exemplos de tratamentos com tons de cinza de grandes desenhistas, a planta do cenário onde a ação transcorre, fotos de filmes de zumbi, de terreiros, o diabo. É como trabalhar num estúdio mas sem perturbação de chefe, indo direto ao assunto, com nada além do seu prazo de entrega interno e uma vontade insana de ver o negócio finalmente pronto. Assim a parceria não acaba quando envio o roteiro e funciona bem quando os envolvidos estão na mesma sintonia.

Essa HQ deve ver a luz do dia ainda este ano, impressa em papel se tudo der certo. No meio do caminho fui convidado pra escrever artigos pra dois sites, coluna pra um outro, tradução pra um terceiro e letras pra uma banda eletrônica que me incluiu como membro honorário; tudo 'pro bono'. Não sei ainda o que não vou poder topar. Nossa festa está sem-teto de novo, andei pra baixo e pra cima com a família pra conseguir pagar dívidas, estou sem dinheiro faz tempo, minha namorada está desempregada de vez e meus trabalhos pagos ficando cada vez mais escassos.

Mas não podia estar mais contente. Acabei um roteiro de HQ que comecei faz tempo. Quando eu digitava sem parar e tossia feito um cachorro doente estava feliz pra caralho. Ganhar pra fazer isso um dia vai ser o Paraíso.