sexta-feira, fevereiro 20, 2004

- [reescrito porque estava feião] Erik Larsen, de SAVAGE DRAGON, é o novo Publisher da Image Comics, entrando no lugar de Jim Valentino. se isso vai ser um passo à frente ou atrás em termos de conteúdo do material lançado não dá pra dizer ainda. a editora começou como refúgio de vários desenhistas superstars da milionária década de 90 [quando o pessoal recebia royalties tão altos que ganhavam logo um carro] e que resolveram dar um pé na Marvel e DC pra fazer gibis em geral visualmente atraentes - a não ser pela paleta de cores - mas sem conteúdo algum. conceitos regurgitados dos personagens que eles faziam nas editoras grandes, pensados primeiro no visual e depois no roteiro. mesmo assim vendia como água [a especulação das capas variantes ajudava] e moldou a mente de uma geração de moleques desenhistas. "Image" era sinônimo de "imagem" literalmente; histórias vazias, personagens ridículos em anatomia feia e mal posados, pancadaria do começo ao fim, militarismo desenfreado, testosterona adolescente. só do pro fim da década - quando a bolha da 'bolsa de HQ' estourou e as vendas despencaram - que roteiristas de peso foram chamados pra rechear os gibis com alguma história de verdade.

a Image sempre foi um pool de estúdios, cada estrela tendo sua própria casa, como uma gangue: Todd McFarlane tinha o Spawn e hoje se deu bem fazendo brinquedos, Larsen é o único que ainda trabalha como autor no seu personagem, Marc Silvestri comanda a Top Cow, o 'enfant terrible' [e notório 'arranja-treta'] Rob Liefeld tinha sua Awesome até ser expulso do grupo, Jim Lee a Wildstorm [que criou um universo próprio consistente e foi vendida pra DC] e Jim Valentino, o pior dos desenhistas, até ontem o publisher e um dos principais responsáveis pela editora deixar de ter sua marca relacionada com gibis vazios por conta do esquema de publicação da Image Central: dar chance a novos autores submeterem suas mini-séries, graphic novels e séries regulares pra lá, independente de gênero. a editora lança se gostar e, depois dos custos iniciais com gráfica e distribuição serem pagos, os autores dividem o lucro entre si e retém os direitos autorais - inclusive pra outras mídias, o que todo mundo quer agora que os filmes de HQ estão na moda. nesse esquema que o manga-ka brasileiro VICTORY foi lançado lá.

Doze anos depois, o militarismo industrial assola parte do mainstream, alguns dos cabeças voltaram com muito gosto a trabalhar pra Marvel e DC [mantendo ou não seus selos] e é só ver o que a editora programa pra lançar todo mês: uma variedade enorme de títulos interessantes em vários gêneros e novos autores tendo sua chance. os gibis bestas que eram a cara dos anos 90 - comprados por muitos, lidos por poucos e odiados por mais gente ainda - são hoje minoria na casa [e Rob Liefeld ganhou status de trash-pop com seus títulos exatamente iguais aos da época e tretas idem]. a Image hoje é onde muita gente quer começar: virou trampolim pra novos pequenos estúdios, ainda que parte deles tenha debandado por causa da política de anúncios internos das revistas. e porque acreditam que a partir de um certo patamar de vendas estão melhor se auto-publicando.

A saída de Valentino parece ter sido acertada por McFarlane e Silvestri no fim de semana passado por conta de uma queda geral de vendas e participação no "market share" geral das editoras, fora a perda das parcerias com certos estúdios como o Dreamwave, o que fez a Image perder TRANSFORMERS e GI JOE, por exemplo. Larsen aparentemente tem um tempo limitado pra fazer a bola rolar mais rápido e a casa voltar a crescer, senão Silvestri e sua Top Cow tomam conta da parada [parece acerto entre gangues ou o quê?].

E Larsen no lugar de Valentino pode fazer a Image pender um pouco mais pro lado pop que pro autoral, mas um pop amalucado e imaginativo como é seu SAVAGE DRAGON - que passou faz tempo dos 100 números e ainda conserva um pouco do colorido e do espírito de diversão visual sem se levar muito a sério. o que em tempos como os nossos é um elogio.


- só pra não esquecer: bem-vinda à América. [não abra no trabalho]