quarta-feira, janeiro 07, 2004

SUPER-MALA

considerações sonolentas e bagunçadas sobre HQ, postadas na alta madrugada em uma lista de discussão por aí:

as piores merdas do mundo em termos de supererói são feitas com o Super-Homem - morte/renascimento, impostores fuleiros, divisão em vários corpos, clone, poderes do além, enésima revisão da origem em pouco espaço de tempo. por mais que odeie o spandex, nosso amigo enfezado Ellis foi quem melhor sugeriu o que se devia ser feito com o personagem [se não me engano no ensaio WHY THEY WILL NEVER LET ME WRITE SUPERMAN, que aqui é uma mistura da minha memória nublada do texto com minhas considerações]:

- cancelar quase tudo e deixar só dois ou três títulos;

- chamar bons escritores e deixar eles realmente fazer algo que preste com o personagem;

- um dos títulos podia ter a continuidade normal do personagem e o outro devia ser de arcos pequenos fora da continuidade [à moda do LEGENDS do Batman] ou - melhor ainda - pelo menos por um tempo ter histórias deviam ser fechadas, como era o SUPERMAN ANIMATED [que contém boas histórias do Millar, dizem]. ajuda um pouco a pegar leitores desavisados, pelo menos por um tempo.

- o personagem é um alienígena criado num planeta estranho; isso quase nunca é explorado.

- e é também uma idéia simples [como todo bom personagem antigo]: um homem que é melhor que todos os outros homens e os ajuda a sobreviver a catástrofes e acidentes [ao redor do planeta, diga-se de passagem]; tem muita coisa aí a ser explorada que há muito tempo não aparece em detrimento de uma continuidade chatíssima. há todo aquele subtexto de Cristo que pode ser explorado, mas se nem mostram o Super da forma simples, vai ficar difícil mostrar da mais complexa.

- por essas e outras não tem figura mais icônica da HQ que ele. de qualquer forma
quem em sã consciência agüenta ver aquela roupa azul e vermelha sem achar ridícula?
viu os designs do Jim Lee pro personagem a sair esse ano? o cara só pode mudar uma coisinha aqui, outra ali. o personagem foi criado no fim dos anos 30 quando a imagem de "homem forte do circo" fazia algum sentido ainda. os donos da marca não querem se dispor a mudar todos seus produtos - e perder parte do reconhecimento instantâneo do visual - e vendem pros fanboys a idéia que o clássico é que tem de perdurar. até o visual do Superboy nos Titãs atuais é mais legal: um cara com uma roupa comum, que qualquer HOMEM pode usar - e a porra do "S" no peito, indicando que ele é o SUPER, oras. isso todo mundo reconhece e até usa em estampas na rua. demorou.

Azzarello e Rucka [que vão comandar o personagem em 2004] são bons escritores, mas não boto uma fé não. a parede invisível do marketing é muito forte aqui pra ser rompida por qualquer "digitador" que vai rechear as revistas de conteúdo [porque é assim que os donos da marca enxergam a coisa].