domingo, janeiro 26, 2003

- tirado do Uol Gay:

Lafond e o padre Marcelo

[por André Fischer]

A morte do comediante Jorge Lafond gerou polêmica no sempre prolixo movimento gay brasileiro, que ainda busca uma postura consensual sobre o artista. Tem sido imputado ao padre Marcelo a responsabilidade indireta pela morte do criador de Vera Verão, que teria exigido a retirada da desvairada personagem do set de gravação de um programa do qual ambos participavam.

Segundo amigos próximos de Lafond, o fato teria causado uma depressão profunda, resultando nos infartos que motivaram sua morte. Lafond teve a coragem de assumir sua homossexualidade e trabalhou por causas nobres como a luta contra a Aids. Mas seu insistente discurso contrário aos direitos civis de gays e lésbicas representou um golpe desnecessário na auto-estima gay e deu munição para setores mais retrógrados.

Talvez a decepção causada pela recusa do sacerdote popstar em ser visto ao lado de uma bicha louca tenha recolocado o artista diante de um problema real que a fama lhe havia feito esquecer. Dentro da sua postura religiosa anacrônica, o padre não deixa de ser coerente. Incoerente era Lafond, ao supor que seria melhor aceito ao condenar homossexuais que manifestavam explicitamente sua condição ou apareciam juntos em público, como chegou a fazer no Superpop.

Ninguém é obrigado a apoiar a parceria civil ou adoção, mas fica difícil defender alguém que usa sua figura pública para enxovalhar casais que ousam dar as caras em rede nacional. É a baixa auto- estima, e não o preconceito, que induz a problemas de saúde.

O preconceito internalizado de Vera Verão é fato comum na comunidade gay. Fico sempre assustado ao ver gays "acusando" outros de serem gays. São os primeiros a usar o tom de inculpação ao denunciar a condição homo ou bissexual de um artista, colega ou vizinho. O que choca nem é só o absurdo de vê-los reproduzindo um discurso rancoroso. Dá pena ver a absoluta falta de simancol, praticamente um harakiri social.